segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Mulher no Islam - Claudia Voigt Espinola

(a foto tirei desse site, acesse o site para ler a reportagem deles sobre a mulher no Islam. http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=16732&cod_canal=83 Abaixo esta uma outra reportagem que nao é do site da foto)


A MULHER NO ISLÃ
Direitos Humanos, violência e gênero
Cláudia Voigt Espinola
Doutoranda em Antropologia Social – UFSC
e-mail: clau.es@zaz.com.br

“Não sei se as mulheres são porta-vozes da paz, mas sei que alguns dos mais
graves dilemas civilizatórios, alguns dos mais evidentes impasses do conflito de
civilizações que substitui na política internacional os conflitos Leste-Oeste e Norte-
Sul, giram em torno das mulheres. Assim, é em torno da noção da universalidade dos
direitos humanos, questão tão sensível quanto o clitóris que alguns se acham no direito
de cortar em nome da diversidade cultural.”
(OLIVEIRA, 1995: 209)
Este comentário me fez pensar. A diversidade cultural é um princípio que em
muitos lugares do planeta está comprometido. Mas de igual modo muitas pessoas são
privadas de direitos que consideramos básicos. Não se trata aqui de aceitar ou não a
mutilação genital, tema tão emblemático nas discussões do Ocidente e culturas islâmicas.
Também não se trata de fazer uma defesa do universalismo ou do relativismo, pois acredito
ambos têm o seu raio de ação. O que pretendo refletir neste texto é o quanto somos levados
a pensar sobre o Outro de uma forma que o desqualifica e usamos os princípios dos direitos
humanos para legitimar verdades incontestáveis de forma a impedir o olhar até para Nós
mesmos.
Falar sobre o islamismo, países muçulmanos, cultura árabe1 gera vários
estereótipos: desde tendas do deserto, dança do ventre, “feiticeiras”, até extremismos e
atentados, mas percebo que principalmente vem à tona a situação das mulheres,
considerada de extrema submissão, vítimas de “violências bárbaras”:
- Em Bangladesh as mulheres são atacadas com jatos de ácido no rosto. As vítimas
são quase sempre garotas pobres que recusaram casamentos arranjados, investidas sexuais
ou a clausura que lhes querem impor os pais ou maridos.
- No Afeganistão as mulheres passaram a ter que usar a burqua, um vestido longo
com uma carapuça que esconde a cabeça e tem uma tela por onde elas podem enxergar. São
apedrejadas em público se não usam o traje formal. Uma mulher apanhou até a morte de
um grupo de fundamentalistas por expor o braço dela acidentalmente enquanto estava
dirigindo. Outra foi apedrejada até a morte por ter tentado deixar o país com um homem
que não era seu parente.
1 A palavra árabe significa nômade que vive sob sua tenda no deserto. Diz portanto mais respeito a um gênero
de vida e organização social do que uma língua ou mesmo uma raça. Neste sentido a língua árabe se difundiu
e arabizou populações gerando mais arabizados do que árabes propriamente ditos; povos que passaram a se
identificar pela língua, pela religião e pelos hábitos sociais. Os povos aos quais chamamos árabes representam
um conjunto heterogêneo que vai desde o mundo árabe do Oriente - Machrek: Arábia Saudita, Iêmen, Omã,
Emirados Árabes, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Kwait, Palestina; até o mundo árabe do Ocidente -
Maghreb: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Sudão. (LINHARES, 1982: 18-19)
- No Irã as mulheres são obrigadas a usar o véu para esconder os cabelos. Seu
testemunho vale metade do de um homem. A lei concede ao marido o direito de repudiar a
esposa, sem que ela possa contestar ou pedir pensão. Na situação inversa, o divórcio exige
da mulher longas batalhas judiciais.
- Na Arábia Saudita as mulheres não podem dirigir automóvel ou sentar-se sozinha
num restaurante. Neste país existem cerca de 300 mil motoristas particulares, número ainda
distante de poder fornece a cada mulher saudita a locomoção desejada. Mulheres que não
tem motoristas só podem sair de acordo com a vontade de seus maridos ou filhos.
- Em vários países africanos e do Oriente Médio, ou mesmo na Indonésia, Malásia,
Paquistão e Índia, mais de 2 milhões de jovens e mulheres adultas sofrem anualmente a
mutilação genital.
E os exemplos se multiplicam. GROSSI (1999?) ressalta que as reportagens
veiculadas na televisão (brasileira e francesa) por ocasião da IV Conferência Mundial
sobre a Mulher em Pequim (1995) foram centradas na violência contra as mulheres (ponto
central da Conferência) e que essas imagens eram na grande maioria de países islâmicos ou
africanos, como se a violência no Ocidente não existisse ou fosse de menor grau. (1999: 02)
A Declaração dos Direitos Humanos afirma que os seres humanos nascem iguais em
direitos e igualdade, mas sabemos que de fato não é assim que vivem. Mesmo nos países
considerados desenvolvidos, defensores dos direitos humanos e apesar de todas as
conquistas sociais, políticas e econômicas a IV Conferência da Mulher reconheceu em
Pequim em 1995, que as mulheres são vítimas de preconceitos, crimes, espoliação dos
direitos enquanto pessoa e sempre atacadas na sua dignidade. Golpeadas, mutiladas,
violadas, seqüestradas e aterrorizadas: as histórias percorrem todo o globo terrestre:
“violência, assalto doméstico, prostituição forçada, abuso sexual de crianças, assédio nos
locais de trabalho. Estas e outras formas de violência contra as mulheres cruzaram as
fronteiras culturais, religiosas e regionais” disse o secretário geral da ONU, Kofi Annan2.
Pelo menos 20% das mulheres no mundo já foram atacadas física ou sexualmente. A
violência mata ou incapacita como o câncer, segundo estatísticas das Nações Unidas e do
Banco Mundial. Portanto o mundo ocidental com todos os seus pressupostos, de igualdade,
liberdade e democracia também não resolveu seus problemas de pobreza e mazelas sociais.
A violência, corrupção, tráfico e a violência e opressão femininas não são privilégios das
mulheres dos países pobres ou das mulheres muçulmanas, tão evidenciadas pela mídia: a
violação dos direitos humanos está em todos os lugares. Pode ser “justificada” pelos
governantes como fazendo parte do seu código de leis, por exemplo em países como
Afeganistão e Arábia Saudita que seguem o islamismo fundamentalista. Mas também a
violência pode ser não justificada, proibida por princípios, leis, códigos. Isto não significa
que ela não ocorra, ou ainda que não ocorra em maior número, como no caso do Brasil e
dos Estados Unidos.3
De fato nos horrorizamos com a extirpação do clitóris das mulheres muçulmanas no
entanto há outras formas de violência ou mortes igualmente brutais contra as mulheres
ocidentais. A Anistia Internacional e os representantes da ONU confirmam que os números
2 Folha de São Paulo, 07/03/99
3 Nos EUA uma mulher apanha a cada 15 segundos, a cada dia quatro mulheres são assassinadas pelas mãos
de seus cônjuges

LEIA mais aqui - http://www.naya.org.ar/religion/XJornadas/pdf/7/7-Espinola.PDF

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